Às vezes ele achava que estava
sozinho no mundo. Tinha uma vontade louca de sair de casa e andar por aí, sem
pensar em nada. Apenas caminhar para lugar algum. Quem sabe gritar, enquanto
ninguém estivesse olhando, e botar toda a raiva pra fora. Quem sabe sentar num
banquinho de praça qualquer, e se permitir chorar por entre as mãos cobrindo o
rosto, sem ligar pro que alguém poderia pensar. Ele achava que carregava
sozinho o peso do mundo nas costas. Ele estava tão cheio dos problemas da vida,
que às vezes se esquecia de olhar o lado bom das coisas. Nunca percebeu que
daquela nota baixa em matemática no ensino médio, ganhou a melhor amiga do
mundo. E logo ele, que sempre achou que a escola era o inferno maior, odiava
ainda mais a universidade. Não sabia o que fazer com todas aquelas pessoas e
lugares, ao mesmo tempo tão cheios e vazios. Não sabia lidar com as perdas, não
conseguia lidar com todas as coisas saindo do seu controle. Ele nem ao menos
percebeu o quanto sua vida tinha mudado pra melhor em todo esse tempo. O quanto
ele ria mais, e o quanto as verdadeiras amizades tinham se firmado, mesmo que
algumas estivessem distantes. Às vezes, com tanta coisa perturbando sua cabeça,
ele até se esquecia de como o pôr-do-sol visto pela janela do seu quarto era
adorável e reconfortante. O quanto as horas livres renderam bons filmes e boas
leituras. Mal podia imaginar o quanto todas essas mudanças haviam-no feito crescer.
Como uma luz que se acendeu em sua cabeça, ele olhou para trás e viu tudo o que
tinha ganhado. Riu consigo mesmo, achando-se um tolo. Não é assim que a vida é?
Sempre pregando-nos peças. Sempre fazendo tempestade no copo d’água que é o
nosso mundinho. Mas dia após dia, as coisas começam a se encaixar e fazer
sentido. O que era feio passa a ser belo, e nós nos tornamos compreensíveis com
os problemas do mundo. Afinal, de que adianta apenas resmungar e não fazer nada
para mudar? De que valeriam nossas histórias sem as cicatrizes? Como
levantaríamos sem nunca termos caído? Certa vez ouvi por aí que são das grandes
tempestades que sempre vêm os mais bonitos arco-íris.
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