sexta-feira, 6 de junho de 2014

Arco-íris

Às vezes ele achava que estava sozinho no mundo. Tinha uma vontade louca de sair de casa e andar por aí, sem pensar em nada. Apenas caminhar para lugar algum. Quem sabe gritar, enquanto ninguém estivesse olhando, e botar toda a raiva pra fora. Quem sabe sentar num banquinho de praça qualquer, e se permitir chorar por entre as mãos cobrindo o rosto, sem ligar pro que alguém poderia pensar. Ele achava que carregava sozinho o peso do mundo nas costas. Ele estava tão cheio dos problemas da vida, que às vezes se esquecia de olhar o lado bom das coisas. Nunca percebeu que daquela nota baixa em matemática no ensino médio, ganhou a melhor amiga do mundo. E logo ele, que sempre achou que a escola era o inferno maior, odiava ainda mais a universidade. Não sabia o que fazer com todas aquelas pessoas e lugares, ao mesmo tempo tão cheios e vazios. Não sabia lidar com as perdas, não conseguia lidar com todas as coisas saindo do seu controle. Ele nem ao menos percebeu o quanto sua vida tinha mudado pra melhor em todo esse tempo. O quanto ele ria mais, e o quanto as verdadeiras amizades tinham se firmado, mesmo que algumas estivessem distantes. Às vezes, com tanta coisa perturbando sua cabeça, ele até se esquecia de como o pôr-do-sol visto pela janela do seu quarto era adorável e reconfortante. O quanto as horas livres renderam bons filmes e boas leituras. Mal podia imaginar o quanto todas essas mudanças haviam-no feito crescer. Como uma luz que se acendeu em sua cabeça, ele olhou para trás e viu tudo o que tinha ganhado. Riu consigo mesmo, achando-se um tolo. Não é assim que a vida é? Sempre pregando-nos peças. Sempre fazendo tempestade no copo d’água que é o nosso mundinho. Mas dia após dia, as coisas começam a se encaixar e fazer sentido. O que era feio passa a ser belo, e nós nos tornamos compreensíveis com os problemas do mundo. Afinal, de que adianta apenas resmungar e não fazer nada para mudar? De que valeriam nossas histórias sem as cicatrizes? Como levantaríamos sem nunca termos caído? Certa vez ouvi por aí que são das grandes tempestades que sempre vêm os mais bonitos arco-íris. 

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