terça-feira, 18 de março de 2014

Sobre viagens e o tempo

fixed at zero
"Às vezes não sei mais quem sou, me deu vontade de voltar."

      Quando paro e penso, percebo que talvez minha vida não tenha tomado o rumo que esperei que ela tomasse. Atingi alguns objetivos, mas outros, outrora tão importantes, parecem ter-se perdido na névoa do passado. Será que todos os planos que construí foram em vão? Tenho uma casa linda para morar, um companheiro que nunca soltará da minha mão; saberei eu preservá-los como devo? E as visitas, ah! Doces visitas... Que já foram calmaria, desespero, e hoje são nada. Vejo sorrisos amigos, abraços, saudade, e eu só tenho o nada. Todas as fortalezas ruíram. Todas as pessoas mudaram. E no fim, preciso admitir, eu também mudei. Mas quem será que consegue permanecer imutável? E quem será que consegue dizer o que é melhor ou pior? Já não sei dizer. Despi-me de todas as certezas; talvez tenha me vestido em excesso com minha armadura de orgulho. Fechei-me ao ponto de me colocar em primeiro lugar em todas as coisas. No final das contas, a egoísta de sempre. Quem poderá negar? 
      Em uma das viagens ao passado, observei cada detalhe. Cada curva da cidade, cada cheiro de mato, cada rosto desconhecido. E os abraços calorosos de antes se tornaram apenas uma memória agradável, que no fundo tem uma pontinha de dor. Como pode a gente se deixar perder assim? Seguindo o trajeto, a lua brilhava acima das cabeças inquietas. Os pensamentos que outrora almejaram conquistar o mundo já não eram dominantes. Só queria a paz. O que se leva de cada novo dia? Perguntava-se. O que se esconde por trás de cada sorriso, cada distância, cada mágoa, cada olhar cansado? Questionava-se sobre o que o tempo era capaz de fazer aos sentimentos, e as certezas que outrora carregara consigo já não eram tão certas assim. O vento e o tempo haviam-se encarregado de varrer algumas coisas. O tempo também, felizmente, trouxera-lhe a paz que tanto ansiava – ou, ao menos, ela tentava se convencer disso –. Eu sempre achei que lhe veria outra vez... E vi. Mas parecia-me alguém que não conheço mais. Que máscara veste? Em que lugar escondeu a verdade de sua face? A sua indiferença não me perturba mais – e que engano eu cometia a acreditar nisso... Mas tudo passa, afinal –. Lar, doce lar de intrigas a segredar. Que o perdão nos acalme as almas feridas pelos tempos de dor.