Às vezes ele achava que estava
sozinho no mundo. Tinha uma vontade louca de sair de casa e andar por aí, sem
pensar em nada. Apenas caminhar para lugar algum. Quem sabe gritar, enquanto
ninguém estivesse olhando, e botar toda a raiva pra fora. Quem sabe sentar num
banquinho de praça qualquer, e se permitir chorar por entre as mãos cobrindo o
rosto, sem ligar pro que alguém poderia pensar. Ele achava que carregava
sozinho o peso do mundo nas costas. Ele estava tão cheio dos problemas da vida,
que às vezes se esquecia de olhar o lado bom das coisas. Nunca percebeu que
daquela nota baixa em matemática no ensino médio, ganhou a melhor amiga do
mundo. E logo ele, que sempre achou que a escola era o inferno maior, odiava
ainda mais a universidade. Não sabia o que fazer com todas aquelas pessoas e
lugares, ao mesmo tempo tão cheios e vazios. Não sabia lidar com as perdas, não
conseguia lidar com todas as coisas saindo do seu controle. Ele nem ao menos
percebeu o quanto sua vida tinha mudado pra melhor em todo esse tempo. O quanto
ele ria mais, e o quanto as verdadeiras amizades tinham se firmado, mesmo que
algumas estivessem distantes. Às vezes, com tanta coisa perturbando sua cabeça,
ele até se esquecia de como o pôr-do-sol visto pela janela do seu quarto era
adorável e reconfortante. O quanto as horas livres renderam bons filmes e boas
leituras. Mal podia imaginar o quanto todas essas mudanças haviam-no feito crescer.
Como uma luz que se acendeu em sua cabeça, ele olhou para trás e viu tudo o que
tinha ganhado. Riu consigo mesmo, achando-se um tolo. Não é assim que a vida é?
Sempre pregando-nos peças. Sempre fazendo tempestade no copo d’água que é o
nosso mundinho. Mas dia após dia, as coisas começam a se encaixar e fazer
sentido. O que era feio passa a ser belo, e nós nos tornamos compreensíveis com
os problemas do mundo. Afinal, de que adianta apenas resmungar e não fazer nada
para mudar? De que valeriam nossas histórias sem as cicatrizes? Como
levantaríamos sem nunca termos caído? Certa vez ouvi por aí que são das grandes
tempestades que sempre vêm os mais bonitos arco-íris.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
domingo, 1 de junho de 2014
Sobre anjos e estações de trem
O tempo passa tão rápido que a
gente nem vê. O trem da vida passa e não espera por ninguém. As estações estão
sempre cheias de pessoas que às vezes nem sabem para onde querem ir. Levam
consigo dores, incertezas, medos, insegurança. Escondem nos olhos e na alma o
peso de carregar o próprio mundo nas costas. Os trilhos conhecem todas as
histórias, todas as lutas. E mesmo exaustos, sempre levam o trem a alguma
direção. Eu sei que quase nunca é fácil. Eu sei do trabalho que dá. Levantar
todo dia, respirar fundo, encarar o mundo. Viajar de estação em estação. Não se
deixar abalar com os obstáculos da vida. E sempre ter alguém com quem contar,
porque sem esses anjos sem asas com os quais somos presenteados, fica quase
impossível suportar. É verdade que esse trem nos leva aos caminhos mais
diversos que podemos imaginar. É verdade também que às vezes ele demora de
chegar. E a gente já cansado da espera, reclama, reclama, diz que nunca vai
conseguir. É difícil demais ser forte o tempo todo. Às vezes você só quer desabar,
sem ligar pro que os outros passageiros vão pensar. Às vezes você só quer
desabafar, e deseja que a dor também seja passageira. À noite, quando ninguém
vê, a gente encosta a cabeça no banco do trem ou da estação e chora baixinho. A
gente espera que as lágrimas lavem a alma, ou ao menos aliviem toda a tensão. A
gente sonha com o dia em que o trem vai nos desembarcar na estação felicidade.
A gente quer deixar de lado o passado que tanto nos assombra. E os anjos, ah,
esses anjos! Como eles nos conhecem tão bem... São capazes de tocar nossa alma e
depositar uma sementinha de esperança. Esta, todo santo dia, ao passar por uma
nova estação, recebe um pouquinho de afeto e se torna cada vez mais forte. E
quando ela florescer, eu espero que se espalhe por todas as estações
confortando os corações de quem tanto precisar de um tantinho de atenção.
Assinar:
Postagens (Atom)