terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Oração


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E é tanta coisa transbordando, é tanto sentimento vomitado, tanta coisa remexida dentro de mim. É um caos, uma balbúrdia, um frio-calor que permanece nas entranhas. Um nó na garganta que não sabe se desce ou sobe de vez. É o visceral que se expõe e se sacraliza. É o denso que flutua, a pena que pesa feito pedra. Pedra a ser moldada, esculpida. Forma perfeita e rígida que vem a se desmanchar com o tempo. Palavras são assim, tanto singelas quanto malvadas. Delicadas feito perfume-de-flor-de-primavera, escuras e perversas como tempestades-de-raios-e-trovões. Elas que tudo nos permitem e quase tudo podem expressar. Digo quase tudo porque há coisas que nem mesmo o mais magnificente dos versos jamais revelaria. É como se houvesse um bicho pulsante dentro de nós, algo que não vê a hora de explodir. Um pássaro que ousa levantar voo a qualquer custo, ainda que não o tenha aprendido. É desespero em abrir uma porta ou janela que nos leve a algum lugar. Lugar este que venha a ser seguro, ou não. Lugar em que se possa plantar a semente de uma liberdade ideal. De um grito, de um pedido de socorro, de olhos de súplica. Da necessidade de viver mais e mais, de viver ferozmente. Viver sem temor, e temer o medo. E temer o que retrai, o que limita. E desejar a luz, nem que só por uma fresta. Um pequeno rombo de esperança que traga sorrisos e sonhos. E que cresça, a cada dia. Que se torne grande a ponto de estourar e atingir o mundo. Que não haja motivo para dor. E, se houver, que haja boas almas para salvarem as que padecem. E se eu tiver direito a mais um desejo, que seja a vontade de que tudo isso saia da utopia e venha para o real e concreto. Que a poesia e o pretender-fazer-o-bem nunca morram.  Amém.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Adultos


Às vezes parece que simplesmente não conseguimos entender as coisas que os adultos dizem. Ou unicamente não acreditamos, ou não queremos fazê-lo. São tão frios, tão amargos. Creio que já pela densa carga de decepções ao longo da vida. Um dia, eles já foram como nós. Já tiveram sonhos revolucionários e lutaram por um mundo melhor. Eles construíram o que somos hoje, e apenas nós temos o poder de mudar o amanhã. Olhares tão cansados, com uma desesperança pulsante. Olhares que clamam pelo resgate de sua fé que há muito foi morta. Eles, que por vezes precisam desistir de algo que amam por algo que quiçá lhes pareça deveras necessário. Eles que já não têm a emoção tão à flor da pele quanto nós, jovens, poços de hormônios, crises e indignações absurdas. Eles que tiveram seu tempo, e hoje correm contra este. Não pensem, porventura, que jogamos ao léu o ideal que um dia tiveram. Somos metamorfoses. Ajuizamos diferentes, desejamos algo ainda desconhecido. E batalhamos sim por um objetivo, ainda que no silêncio. Mesmo sem transparecer, por muitas vezes, nossas mentes fervem em pensamentos e devaneios. Choramos, gritamos, brigamos. Damos alma e suor, embora um tanto quanto anônimos. Temos corações de líderes, acreditem. Porém, também não pensem que somos o fervor da revolução. Há igualmente cabeças vazias que nada querem, que nada pedem. Que aceitam o que lhes é dado sem questionar; e isto não admito. Como negar um direito que é nosso de reivindicar? Como esquecer de todo o passado árduo que tanto sangue pôs ao chão? O tempo é nosso, nós que o fazemos. Está tudo em nossas mãos e cabe a nós a responsabilidade de saber lidar com o futuro que nos aguarda. Desejo eu que haja empenho por parte dessa geração que pressagia o que há de vir, e que deve honrar o que ficou para trás. Quimeras, batalhas, glórias: que nada tenha sido em vão.