segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Meu-mundo

      Eu não me pareço com ninguém aqui. Fui mantida do lado de fora. Ou será que eu que me fechei? Acho que nunca vou saber. Ou talvez a resposta esteja tão óbvia que eu nem queira ver. Esqueci de como se criam laços; esqueci de como mantê-los. E continuo flutuando em rios superficiais. Eu queria mesmo era mergulhar, conhecer a profundidade. Queria me permitir ser mergulhada. Mas algo nos repele. Ainda não sei dizer se é o meu ou se são os outros coletes salva-vidas que estão apertados demais.
    
      Olho no espelho e não vejo um reflexo; mas vejo muita gente passar. Como numa grande estação de trem, estamos todos apressados, e ninguém se percebe mais. Será que eu estou te invadindo? Será que você quer ser invadido? Será que você quer me ouvir dizer? Acho que não. Talvez também faltem perguntas. É, acho que sim. Mas, de fato, nunca saberei ao certo dizer. É complicado. Desculpe as meias palavras, mas tudo que está preso aqui é só meu. A insegurança é só minha. A mágoa também. Tal como todos os julgamentos que se acumulam. E pesam. Ninguém mais precisa dar conta disso. Só eu. Então viro-me sozinha para minhas entranhas mais subjetivas, e ainda assim não consigo encontrar respostas. Na verdade, estas parecem tão claras que chegam a me causar ira. Contudo, permaneço confusa. Permaneço sem querer dar um passo adiante, mas queixando-me sempre desse passo que nunca é dado. Queixando-me de tudo. Sempre. Muitas direções podem ser seguidas, mas, ao que tudo indica, não estamos dispostos a cruzar nossos caminhos. Continuamos em linhas paralelas, nunca perpendiculares. E, no fim das contas, este será só o resto do mundo; o passado, a lembrança, a memória. Já deixou de ser instante, sempre deixa. E eu me preocupo com a rapidez com que tudo deixa de ser. 
      
      O ciclo se repete.