‘Será que ao menos uma vez na
vida você pode fazer as coisas do jeito certo?’, disse-me minha mãe esta noite.
Depois ainda me perguntam por que é que eu sou tão amarga assim. Eu sou o
reflexo de tudo o que vocês fizeram comigo. Sou reflexo das grosserias e
decepções da vida. Sou reflexo da falta de compreensão e carinho. Sou sonhos
destruídos, sou tortura da alma. Sou janela que não se abre, porta entreaberta
que não ousa dar espaço para ninguém passar. Sou campo vazio, coberto por
pedregulhos. Esperando que alguém o limpe e o faça florescer. Sou sim,
dependente de abraços. Sou carente, não sei ser só. Mas a cada dia, tenho me
habituado mais à situação de ser assim, triste, oca. Tão cheia de sentimentos,
e sem podê-los expressar. É que ninguém entende como é ser tão intensa. É por
esse motivo que às vezes penso que não pertenço a esse lugar. Esse egocentrismo
desmedido me magoa profundamente. Esses apertos de mãos falsos que secretam
punhais prontos para golpear. A verdade é que estamos todos perdidos. E, no
meio dessa guerra de crenças e opiniões, ninguém está disposto a se importar
com a dor do outro. É um mundo torto, vil, sem escrúpulos. É a luta pela
sobrevivência moral e intelectual. Por aqui, mais importante é aquele que tem. Ser
não é nada. Ser se esconde entre as brechas do que o dinheiro pode comprar.
Entre sorrisos falsos e máscaras, eu continuo andando, sem saber para onde ir. Talvez
ainda me reste algum tempo para pensar sobre o que fazer. Desde já, peço
desculpas pelo que não sou, e tento crer que dias melhores virão, apesar das
nuvens escuras e das lágrimas que insistem em cair.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
Tristezas
Deve ser triste ser só. Acordar e
não ter ao lado um corpo quente, alguém com quem partilhar alegrias e dores. Deve
ser triste, ao logo do dia, não ter em quem pensar, além de si. E, ao cair da
noite, apenas o reflexo de um rosto cansado no espelho. A solidão, na verdade,
nos traz liberdade, nos faz ganhar o mundo. Não há sequer alguém que lhe prenda
ou corte suas asas; não há gaiola que lhe aprisione. Existe uma voz interna que
grita emoções, mas ninguém a ouve. Afinal, o eco é tão monótono! O subconsciente
esmurra ferozmente as paredes do quarto, as paredes da mente. Quer fugir, quer
interagir. Para onde? Com quem? Isolou-se, trancou-se em seu próprio universo,
e se recusou a ver a luz. Não quero ser assim, sozinha, triste, amarga, dona da
verdade. Anseio por contemplar a beleza dos dias com um farto sorriso. Ter olhos
fotográficos para as memórias que conhecerei. Apreciar cada gosto e cada aroma.
E nunca, nunca deixar que digam o que devo fazer. Nunca permitir que o abismo
da solidão roube de mim o sonho de ser quem sou.
Assinar:
Postagens (Atom)