sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Reflexos


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‘Será que ao menos uma vez na vida você pode fazer as coisas do jeito certo?’, disse-me minha mãe esta noite. Depois ainda me perguntam por que é que eu sou tão amarga assim. Eu sou o reflexo de tudo o que vocês fizeram comigo. Sou reflexo das grosserias e decepções da vida. Sou reflexo da falta de compreensão e carinho. Sou sonhos destruídos, sou tortura da alma. Sou janela que não se abre, porta entreaberta que não ousa dar espaço para ninguém passar. Sou campo vazio, coberto por pedregulhos. Esperando que alguém o limpe e o faça florescer. Sou sim, dependente de abraços. Sou carente, não sei ser só. Mas a cada dia, tenho me habituado mais à situação de ser assim, triste, oca. Tão cheia de sentimentos, e sem podê-los expressar. É que ninguém entende como é ser tão intensa. É por esse motivo que às vezes penso que não pertenço a esse lugar. Esse egocentrismo desmedido me magoa profundamente. Esses apertos de mãos falsos que secretam punhais prontos para golpear. A verdade é que estamos todos perdidos. E, no meio dessa guerra de crenças e opiniões, ninguém está disposto a se importar com a dor do outro. É um mundo torto, vil, sem escrúpulos. É a luta pela sobrevivência moral e intelectual. Por aqui, mais importante é aquele que tem. Ser não é nada. Ser se esconde entre as brechas do que o dinheiro pode comprar. Entre sorrisos falsos e máscaras, eu continuo andando, sem saber para onde ir. Talvez ainda me reste algum tempo para pensar sobre o que fazer. Desde já, peço desculpas pelo que não sou, e tento crer que dias melhores virão, apesar das nuvens escuras e das lágrimas que insistem em cair.    

domingo, 14 de outubro de 2012

Tristezas


Deve ser triste ser só. Acordar e não ter ao lado um corpo quente, alguém com quem partilhar alegrias e dores. Deve ser triste, ao logo do dia, não ter em quem pensar, além de si. E, ao cair da noite, apenas o reflexo de um rosto cansado no espelho. A solidão, na verdade, nos traz liberdade, nos faz ganhar o mundo. Não há sequer alguém que lhe prenda ou corte suas asas; não há gaiola que lhe aprisione. Existe uma voz interna que grita emoções, mas ninguém a ouve. Afinal, o eco é tão monótono! O subconsciente esmurra ferozmente as paredes do quarto, as paredes da mente. Quer fugir, quer interagir. Para onde? Com quem? Isolou-se, trancou-se em seu próprio universo, e se recusou a ver a luz. Não quero ser assim, sozinha, triste, amarga, dona da verdade. Anseio por contemplar a beleza dos dias com um farto sorriso. Ter olhos fotográficos para as memórias que conhecerei. Apreciar cada gosto e cada aroma. E nunca, nunca deixar que digam o que devo fazer. Nunca permitir que o abismo da solidão roube de mim o sonho de ser quem sou.