‘Será que ao menos uma vez na
vida você pode fazer as coisas do jeito certo?’, disse-me minha mãe esta noite.
Depois ainda me perguntam por que é que eu sou tão amarga assim. Eu sou o
reflexo de tudo o que vocês fizeram comigo. Sou reflexo das grosserias e
decepções da vida. Sou reflexo da falta de compreensão e carinho. Sou sonhos
destruídos, sou tortura da alma. Sou janela que não se abre, porta entreaberta
que não ousa dar espaço para ninguém passar. Sou campo vazio, coberto por
pedregulhos. Esperando que alguém o limpe e o faça florescer. Sou sim,
dependente de abraços. Sou carente, não sei ser só. Mas a cada dia, tenho me
habituado mais à situação de ser assim, triste, oca. Tão cheia de sentimentos,
e sem podê-los expressar. É que ninguém entende como é ser tão intensa. É por
esse motivo que às vezes penso que não pertenço a esse lugar. Esse egocentrismo
desmedido me magoa profundamente. Esses apertos de mãos falsos que secretam
punhais prontos para golpear. A verdade é que estamos todos perdidos. E, no
meio dessa guerra de crenças e opiniões, ninguém está disposto a se importar
com a dor do outro. É um mundo torto, vil, sem escrúpulos. É a luta pela
sobrevivência moral e intelectual. Por aqui, mais importante é aquele que tem. Ser
não é nada. Ser se esconde entre as brechas do que o dinheiro pode comprar.
Entre sorrisos falsos e máscaras, eu continuo andando, sem saber para onde ir. Talvez
ainda me reste algum tempo para pensar sobre o que fazer. Desde já, peço
desculpas pelo que não sou, e tento crer que dias melhores virão, apesar das
nuvens escuras e das lágrimas que insistem em cair.
Texto maravilhoso, disse tudo, esse é um dos textos que parece que em vez de lê-lo, tive a impressão que o texto é que estava me lendo. Sábias palavras, Parabéns.
ResponderExcluirMuito obrigada, fico até sem palavras para agradecer diante da sua fofura!
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