E é tanta coisa transbordando, é
tanto sentimento vomitado, tanta coisa remexida dentro de mim. É um caos, uma
balbúrdia, um frio-calor que permanece nas entranhas. Um nó na garganta que não
sabe se desce ou sobe de vez. É o visceral que se expõe e se sacraliza. É o
denso que flutua, a pena que pesa feito pedra. Pedra a ser moldada, esculpida.
Forma perfeita e rígida que vem a se desmanchar com o tempo. Palavras são
assim, tanto singelas quanto malvadas. Delicadas feito perfume-de-flor-de-primavera, escuras e perversas como tempestades-de-raios-e-trovões. Elas que
tudo nos permitem e quase tudo podem expressar. Digo quase tudo porque há
coisas que nem mesmo o mais magnificente dos versos jamais revelaria. É como se
houvesse um bicho pulsante dentro de nós, algo que não vê a hora de explodir.
Um pássaro que ousa levantar voo a qualquer custo, ainda que não o tenha
aprendido. É desespero em abrir uma porta ou janela que nos leve a algum lugar.
Lugar este que venha a ser seguro, ou não. Lugar em que se possa plantar a
semente de uma liberdade ideal. De um grito, de um pedido de socorro, de olhos
de súplica. Da necessidade de viver mais e mais, de viver ferozmente. Viver sem
temor, e temer o medo. E temer o que retrai, o que limita. E desejar a luz, nem
que só por uma fresta. Um pequeno rombo de esperança que traga sorrisos e
sonhos. E que cresça, a cada dia. Que se torne grande a ponto de estourar e
atingir o mundo. Que não haja motivo para dor. E, se houver, que haja boas
almas para salvarem as que padecem. E se eu tiver direito a mais um desejo, que
seja a vontade de que tudo isso saia da utopia e venha para o real e concreto.
Que a poesia e o pretender-fazer-o-bem
nunca morram. Amém.
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